As Grutas do Poço Velho, histórica necrópole do centro da Vila de Cascais, alvo de curiosidade há largas décadas e durante tanto tempo e que se encontrava fechada ao público, vai finalmente abrir para visitas regulares aos fins de semana e feriados, após beneficiação que permitirá um maior usufruto daquele património histórico.
O monumento fica na margem direita da Ribeira das Vinhas, a cerca de 500 metros da sua foz, na Praia da Ribeira. “E não, as grutas do Poço Velho não vão ter ao Guincho, nem à Boca do Inferno como creem os cascalenses mais velhos! Agora todos podem comprovar isso ao vivo”, esclarece Severino Rodrigues, arqueólogo e responsável pela Divisão de Arqueologia e Património Histórico da Câmara de Cascais.
Com as obras que agora terminam, abre-se um capítulo novo na política cultural e patrimonial local, devolvendo a Cascais aquele que é porventura o mais significante e impactante monumento arqueológico do concelho.
Nas duas antecâmaras foram promovidas obras de remodelação do espaço e recolocadas novas portas, que garantem a circulação de ar no interior das grutas, condição fundamental para o não desenvolvimento de fungos e líquenes no seu interior.
A entrada foi requalificada com a criação de duas pequenas salas, uma para arrumos e instalação do quadro elétrico e outra, do lado oposto, onde ficará a receção ao visitante e são guardados os capacetes, de uso obrigatório durante a circulação no interior das grutas.
Nas paredes da antecâmara de entrada foram aplicados painéis onde consta uma breve descrição da formação geológica, do decurso das investigações arqueológicas e do espólio que lhes está associado, que é complementada com a exibição de um pequeno filme sobre as grutas, apresentado num ecrã de grandes dimensões.
No interior da gruta foi criado um circuito para a circulação, com um passadiço construído em plástico, assinalado por uma suave iluminação lateral e limitado por barreiras físicas que não permitem o avanço para áreas não visitáveis.
Na antecâmara de saída, para além da pintura e limpeza do revestimento de pedra das paredes foram reparados e aumentados os degraus de acesso ao exterior. Esta foi a razão que obrigou à execução de uma nova cobertura metálica sobre toda a antecâmara.
No exterior, no canteiro que se encontra entre as duas antecâmaras, foi também instalada iluminação que durante a noite potencia a imagem do maciço rochoso de calcário no qual se encontra inclusa a gruta.
Aqui nasceu a identidade de Cascais
Tal como se explica aqui, em 1879, o geólogo Carlos Ribeiro (considerado o “fundador” da arqueologia cascalense) explorou pela primeira vez estas grutas, tendo detetado nos sedimentos que preenchiam o seu interior vestígios arqueológicos que vão desde o Paleolítico até à Antiguidade Tardia.
No entanto, a principal ocupação terá sido de época neolítica e calcolítica (4º e 3º milénios a. C.) e corresponde à utilização da gruta como necrópole, tendo sido identificados mais de uma centena de enterramentos.
Entre 1945 e 1947, o engenheiro Abreu Nunes promoveu novas intervenções neste sítio arqueológico, então sob a gestão da Junta de Turismo de Cascais.
Os trabalhos de escavação permitiram recolher um diversificado conjunto de espólio funerário, que incluiu artefactos de pedra polida e lascada, artefactos votivos de calcário, placas de xisto decoradas, elementos de adorno e cerâmica. Algum do espólio recolhido neste sítio arqueológico encontra-se em exposição no Museu da Vila de Cascais.
As primeiras expressões religiosas, visíveis nos rituais funerários que nos permitem perceber a grande ligação que Cascais sempre teve ao mar e à exploração dos seus recursos naturais, estabelecem uma relação direta entre as primeiras comunidades humanas estabelecidas neste espaço e a definição de uma estrutura organizacional comunitária que virá a transformar-se muitos milénios depois no Cascais onde nascemos e vivemos atualmente.
Tendo sido ali que nasceu Cascais, o projeto de recuperação deste monumento e a criação de um circuito de visitação que permitirá visitas e simultaneamente o conhecimento do espaço, um contributo de primeira importância para o reforço da atratividade da região enquanto destino turístico de excelência.
Informações e inscrições:
Telefone: 214 825 190
Organização: Câmara Municipal de Cascais | Fundação D. Luís I
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mdv@cm-cascais.pt
Imagens: CMC