Ano após ano, com a chegada dos dias quentes do Verão, Portugal é assolado pelos fogos florestais, e com estes, vêm as promessas políticas da mudança de paradigma, dos grandes investimentos no reforço dos meios de combate e da aposta na, sempre adiada, reforma florestal.
Sucedem-se as tragédias com perda de vidas humanas, sucede-se a destruição do património florestal e sucede-se a perda dos bens conquistados ao longo de uma vida inteira de trabalho.
Não fosse a extraordinária capacidade de regeneração da nossa floresta e o (cada vez menor) investimento anual dos proprietários florestais, também estes com uma extraordinária capacidade de reagir à adversidade, Portugal seria hoje um enorme deserto.
Na verdade, se olharmos para a distribuição da população portuguesa, comparando a que ainda que ainda (sobre)vive no meio rural e a que vive no meio urbano, facilmente percebemos que o “Portugal rural” é já hoje um enorme deserto populacional e que o futuro, caso não seja feito um colossal investimento na revitalização da economia rural, será ainda mais desertificado.
Se, de uma vez por todas, os nossos governantes não apostarem convictamente no desenvolvimento económico do interior rural, capaz de criar empregos e de fixar população, o abandono dos campos e das florestas continuará a aumentar, e a floresta desordenada reunirá cada vez mais, as condições ideais para a existência de incêndios de grandes dimensões.
Ainda nesta temática do Fogos Florestais (recuso-me a chamar-lhes Incêndios rurais), não posso deixar de fazer uma referência aos nossos bombeiros e enaltecer o brio, o profissionalismo e a coragem destas mulheres (muitas vezes esquecidas) e destes homens que, na sua grande maioria auferindo um vencimento que considero indigno (740,00€), não viram a cara à responsabilidade e arriscam a vida para garantir a segurança dos outros.
Para que se perceba a precariedade remuneratória daqueles a quem carinhosamente chamamos de Soldados da Paz, fique o caro leitor a saber que, um Bombeiro em serviço de combate ao fogo no âmbito de um GRIF*, ELAC* ou ECIN*, recebe por cada 24 horas de trabalho, a “exorbitante” quantia de 64€ (2.66€/hora) e que estes serviços terão de ser realizado em prejuízo das suas folgas.
Esta, é uma realidade que considero inaceitável e que todos podemos ajudar a contrariar.
Assim, caro leitor, deixo-lhe um apelo. Faça-se sócio da associação de bombeiros da sua área de residência, associe-se aos eventos ou iniciativas que estes realizem e participe na vida ativa da sua corporação de bombeiros. Contribua para a dignificação da profissão de Bombeiro.
Na pessoa do Cmdt. Paulo Rocha da Associação Humanitária Bombeiros Estoril, envio um apertado abraço a todos os Bombeiros de Portugal e em especial ao “meus”, os do Estoril.
Carlos Guimarães
*ELAC – Equipa Logística de Apoio ao Combate
*ECIN – Equipa de Combate a Incêndios Florestais