A Câmara de Cascais vai comprar este ano duas obras de Paula Rego (1935-2022), intituladas “Day” e “Night”, para o acervo da Casa das Histórias, dedicada à divulgação da obra da artista, revelaram hoje fontes ligadas a esta entidade.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da Fundação D. Luís I, Salvato Teles de Menezes, membro da comissão paritária responsável pela atividade da Casa das Histórias Paula Rego (CHPR), em conjunto com Nick Willing, filho da pintora, precisou que a negociação com a família da artista decorria há algum tempo.
De acordo com Teles de Menezes, estas serão as primeiras obras de pintura adquiridas pela autarquia para o acervo da CHPR, inaugurada em 2009 para acolher, preservar e divulgar a obra da artista plástica portuguesa, composto atualmente por cerca de 600 gravuras e desenhos, contando com o universo inicial e doações posteriores da pintora – um acervo protegido pelo protocolo fundador, renovado até 2029.
“Há algum tempo que a câmara tem vindo a manifestar a intenção da aquisição à família de Paula Rego, e deverá ser concretizada até à inauguração da próxima exposição dedicada à obra da artista”, uma das mais conceituadas pintoras portuguesas, falecida em junho, em Londres, aos 87 anos.
Prevista para inaugurar a 27 de outubro, a exposição terá por título ”Histórias de Todos os Dias: Paula Rego – Anos 70”, com obras da pintora, provenientes de Londres e do acervo da CHPR, em paralelo com outra mostra, em diálogo com obras da artista Salette Tavares (1922-1994).
Contactado pela Lusa, Nick Willing confirmou a negociação com a Câmara Municipal de Cascais, e que as duas obras em causa, “de grandes dimensões, criadas nos anos 1950, são emblemáticas” do percurso de Paula Rego. Disse ainda que, embora tenham sido pintadas em Londres, estiveram expostas nas paredes da fábrica do pai da artista, em Lisboa.
“O nosso interesse é vender algumas obras a preços mais acessíveis ou doá-las a instituições que as acolham com as melhores condições, e que nos garantam que serão expostas ao público. Esse é o nosso principal objetivo”, disse o realizador, acrescentando que a família de Paula Rego quer “tentar também, sempre, que as obras vendidas sejam expostas na Casa das Histórias”.
A Casa das Histórias, que abriu em Cascais em 2009, num edifício construído de raiz, com projeto do arquiteto Eduardo Souto de Moura, tem vindo a realizar uma programação de exposições do trabalho da pintora e de outros artistas, sobretudo portugueses, com quem a pintora tinha afinidades.
Na sua obra, Paula Rego abordou temas políticos, como o abuso de poder, e sociais, como o aborto, entre outros do universo feminino.
O seu trabalho foi influenciado pelos contos populares e pela literatura, nomeadamente a escrita de Eça de Queirós, que a levou a pintar quadros inspirados em livros como “A Relíquia” e “O Primo Basílio”.
Em 2010, foi ordenada Dama Oficial da Ordem do Império Britânico pela rainha Isabel II e recebeu, em Lisboa, o Prémio Personalidade Portuguesa do Ano atribuído pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal.
Paula Rego recebeu, em 1995, as insígnias de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2004, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e, em 2011, o doutoramento ‘honoris causa’ pela Universidade de Lisboa, título que possui de várias universidades no Reino Unido, como as de Oxford e Roehampton.
Em 2019, foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura.