António Duarte, um antigo decorador de grandes superfícies comerciais e músico de instrumentos de percussão, aceitou o convite para participar num curso de construção de instrumentos musicais. Esta participação mudou a sua vida. Abraçou uma profissão com tradição multissecular no nosso país, e que mantém até aos dias de hoje.

Foi no Alto da Loba (Oeiras), que António Duarte se cruza com o Mestre Gilberto Marques Grácio, considerado um dos melhores construtores de guitarras portuguesas. Pertencia à terceira geração de uma família que construía guitarras portuguesas e violas de fado para inúmeros músicos.

Teve como missão ministrar o curso de construção de instrumentos de cordas e motivar os doze jovens participantes a seguir esta arte. Para quem começa, a principal dificuldade é ter um bom mestre. “Eu tive a sorte de ser ensinado pelo Mestre Gilberto Grácio quando temos uma boa aprendizagem, principalmente com alguém como o Mestre que dominava esta área”.

Após a conclusão do curso, o aprendiz estabeleceu-se como Luthier (profissional especializado na construção de guitarras). Passou por alguns espaços no concelho de Oeiras, onde construía os instrumentos e mais tarde fixou-se em Sassoeiros. Dividia um espaço com mais três artistas ligados ao graffiti e à arte urbana. Há cerca de sete meses com o apoio da Câmara Municipal de Cascais mudou-se para São Miguel das Encostas (Carcavelos), onde está localizado o seu atelier, no espaço Geração C.

As suas mãos já construíram mais de centena e meia de instrumentos (guitarras portuguesas, violas, bandolins e cavaquinhos). A facilidade de comunicação através das plataformas on-line permite uma divulgação dos seus instrumentos para vários países, Índia, Japão e América.

A maioria dos clientes, “todos especiais” como os define, são portugueses a residir nestes locais, mas também pessoas de outras nacionalidades.  “Atualmente é mais fácil chegar ao Japão, por exemplo, podemos expor o nosso trabalho no mundo inteiro. Também não nos podemos esquecer do Fado, que desde que foi considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade e foi uma alavanca para que houvesse mais interesse pelo estilo musical e também pela guitarra portuguesa”, refere.

Com um formato diferente do comum, a guitarra portuguesa assume-se cada vez mais como um instrumento único. “É um instrumento que está apurado, é um instrumento muito versátil em termos tímbricos, tem graves, tem médios, tem agudos, portanto tem uma amplitude muito grande, depois tem uma caixa de ressonância diferente do comum com uma afinação própria”.

Mas, para ter uma boa guitarra é importante, “escolher uma boa madeira. A madeira influência o som, nunca fiz nem nunca vou fazer duas guitarras iguais com o mesmo som, tudo depende do tempo de secagem da madeira e até à maneira como é cortada da árvore”.

Atualmente António Duarte abraçou um projeto a pedido da União de Freguesia de Carcavelos e Parede. “Estou a construir 10 cavaquinhos para as escolas da freguesia, destinados a crianças de 6 a 10 anos”.

Texto: Bruno Taveira