Na Casa das Histórias, em Cascais, vão estar duas novas exposições de Paula Rego dedicadas à década de 1970. São as primeiras a inaugurar em Portugal desde a morte da artista.
Duas novas exposições dedicadas a Paula Rego, as primeiras a inaugurar em Portugal desde a morte da artista, em junho deste ano, vão estar patentes ao público a partir de domingo, na Casa das Histórias, em Cascais.
Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora da programação e conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a primeira mostra reúne obras do período criativo da artista que se estende de 1969 até o final da década de 1970.
Nesta fase, Paula Rego produziu pinturas a partir do universo de contos de fadas e da tradição oral portuguesa, além de desenhos em que, numa linguagem visual onírica e fantástica, por vezes próxima do surrealismo, registou cenas do seu quotidiano e memórias infantis e familiares”, explicam os organizadores.
Entre as cerca de 115 obras em exposição, a que se soma documentação da época, contam-se obras que integram as séries “Histórias de Todos os Dias”, “Os Amantes” e “Contos Tradicionais Portugueses“.
Esta foi a década que marcou a origem da construção do universo simbólico particular de Paula Rego, caracterizado pelo experimentalismo formal e técnico.
As obras expostas evidenciam também uma dimensão política, com referências diretas à Revolução de Abril, e abrangem contextos narrativos muito diversificados.
Esta exposição é acompanhada pela edição de um catálogo que integra um estudo das obras apresentadas e um ensaio sobre a “Receção crítica da obra de Paula Rego em Portugal nos Anos 1970”.
A outra mostra, “Paula Rego e Salette Tavares: cartografias da criatividade feminina nos anos 70”, acontece no âmbito do centenário do nascimento da escritora, poeta e artista Salette Tavares, coincidindo com o ano da morte de Paula Rego.
Neste âmbito, a exposição, que tem curadoria de Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira, propõe o cruzamento entre a obra de Paula Rego e a sua divulgação em Portugal na década de 1970, com a fundamental contribuição de Salette Tavares enquanto crítica de arte e curadora.
Segundo as curadoras, Salette Tavares desempenhou um papel muito importante na promoção da obra das artistas portuguesas naquela década, e esta exposição “sublinha a sua relevante ação na aproximação do trabalho de Paula Rego junto do público português”.
Uma das obras em exibição, “Dois lindos vestidos que a Salette deu à Paula, Fev. 1976”, evidencia a amizade e a cumplicidade entre as duas artistas, tal como a obra “Armário, 1972”, que tem a inscrição “Querida Salette aqui vai um armário cheio de coisas, com muitos parabéns da Paula”.
Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira explicam que esta exposição é organizada no âmbito do projeto exploratório “Cartografias da criatividade feminina, 1974-1979”, financiado pelo Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, que tem como objetivo “dar visibilidade à intervenção das mulheres portuguesas no campo das artes, da crítica da arte e da curadoria, revelando-se como agentes na redefinição cultural e artística do país após a revolução de 1974”.
Para as curadoras, Paula Rego e Salette Tavares “evidenciam o contributo da criatividade feminina, não só para a análise crítica do panorama artístico português pós-revolucionário, mas, sobretudo, para a revelação dos gestos e corpos, dos pontos de vista e das experiências das mulheres neste período”.
As duas exposições vão estar patentes até ao dia 21 de maio de 2023.
Lusa