Um grupo de cidadãos manifestou-se esta sexta-feira contra o projeto de urbanização da Quinta dos Ingleses, no concelho de Cascais, que prevê a construção, numa zona verde, de edifícios de luxo e de atividade turística.
A ação de protesto, que reuniu cerca de trinta pessoas, decorreu junto à sede da empresa de construção Alves Ribeiro, em Lisboa, atual proprietária dos terrenos e promotora da obra no concelho de Cascais.
O designado Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS) prevê a reestruturação urbanística de uma área de 54 hectares, onde se situa o colégio inglês “St. Julian’s”, em Carcavelos com a criação de um parque urbano, a “preservação e valorização do conjunto edificado da Quinta dos Ingleses” e um empreendimento de “usos habitacional, de comércio, de serviços, hoteleiro e outros”.
No entanto, o PPERUCS tem sido criticado por movimentos de cidadãos, em particular pela associação SOS Quinta dos Ingleses e pelo coletivo Alvorada da Floresta, que apontam para o efeito nefasto na sustentabilidade ambiental da região.
Em declarações à agência Lusa, Pedro Jordão, do movimento SOS Quinta dos Ingleses, criticou o promotor da obra (Alves Ribeiro) e a Câmara Municipal de Cascais por “insistirem num projeto que vai destruir um património único” e contribuir para uma “tragédia ambiental”.
“Estamos numa fase decisiva em que a Câmara [de Cascais], depois de uma consulta pública, pretende começar a emitir as licenças de construção à revelia daquela que é a vontade maioritária de toda a população. São 850 apartamentos, três hotéis, uma zona comercial e escritórios. Vai ter um impacto brutal em termos de poluição, de destruição de espaço verde e da qualidade de vida das populações, com as consequências em termos climáticos”, alertou.
A preocupação pela preservação do espaço, considerada por estes grupos como o “último pulmão verde da região”, já tinha sido manifestada em maio do ano passado no parlamento, na comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, numa sessão em que participaram representantes dos movimentos cívicos SOS Quinta dos Ingleses e Fórum por Carcavelos, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), além do presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras (PSD).
Nessa sessão, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras (PSD) afirmou que a autarquia não tem capacidade para travar o projeto de urbanização da Quinta dos Ingleses e que só o Governo o poderá fazer.
O autarca ressalvou que o município não pode suportar o valor indemnizatório aos promotores do projeto, uma vez que eles têm “direitos adquiridos” sobre a Quinta dos Ingleses.
Contudo, poucos dias depois, também no parlamento, o secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Catarino, disse que foi o município de Cascais a elaborar e a aprovar o plano de pormenor para o espaço, sendo, por isso, a única entidade a conseguir “reverter todo o processo.
Nesse sentido, Pedro Jordão considerou que a Câmara Municipal de Cascais poderá “travar este processo, caso tenha vontade política para o fazer”.
“Este é um projeto que data do século passado e que devia ter ficado no século passado. Devia ter sido revisto. É importante que seja parado. A Câmara tem todos os instrumentos e o próprio Governo já o disse frontalmente ao presidente Carlos Carreiras. Portanto, há aqui uma manifesta falta de vontade política por parte da Câmara Municipal”, argumentou.
A Câmara Municipal de Cascais, não quis tecer comentários sobre o assunto.
Notícias de Cascais coim Lusa
Imagem: SOS Quinta dos Ingleses