Escoliose Idiopática: uma doença com causa desconhecida

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No passado 24 de junho, assinalou-se o Dia Internacional de Sensibilização para a Escoliose. A Escoliose é uma doença com impacto muito considerável na autoestima de crianças e adolescentes, pela deformidade vertebral a que se associa. Para os pais e cuidadores, esta doença é motivo de grande ansiedade, não só pela incerteza da sua progressão, mas também pela dúvida no tratamento adequado. Assim, é fundamental estarmos atentos aos primeiros sinais da doença, a fim de facilitar um diagnóstico e tratamento precoce.

O que é a Escoliose?

A Escoliose representa uma deformidade morfológica tridimensional da coluna vertebral, definindo-se, por convenção, como uma curvatura superior a 10º, acompanhada de diferentes graus de rotação vertebral.

Como se desenvolve esta doença?

Ainda que a sua origem possa ser diversa, podendo ser expressão de uma doença neurológica ou muscular, como Paralisia Cerebral, resultar de uma malformação congénita, ou corresponder a uma anomalia provocada por outra doença, como a Síndrome de Marfan, a grande maioria dos doentes (mais de 80%) apresenta Escoliose de origem indeterminada, designada por Escoliose Idiopática. Nestes casos, a causa da doença não é perfeitamente conhecida, podendo dever-se a fatores genéticos, alterações hormonais e do metabolismo, concentração das proteínas musculares, entre outros.

Qual é a incidência?

Tendo por base a idade em que se desenvolve e a altura em que é diagnosticada, a Escoliose Idiopática pode ser classificada em 3 subgrupos – Infantil, Juvenil e do Adolescente, com características e graus de gravidade diferentes.

A Escoliose Idiopática do Adolescente representa mais de 80% das escolioses diagnosticadas e afeta cerca de 3% da população, sobretudo entre os 12 e 14 anos. Apesar da incidência igual em ambos os sexos, o risco de progressão da curvatura e necessidade de tratamento cirúrgico é aproximadamente dez vezes superior no sexo feminino.

A maioria dos casos são diagnosticados tardiamente, já numa fase muito avançada de deformidade, pela frequente ausência de dor ou alterações neurológicas, no início. Por esta razão, é fundamental a sensibilização dos profissionais de saúde e das pessoas que lidam diariamente com as crianças, como os seus professores, familiares e cuidadores, para os sinais de alerta da Escoliose, de forma a permitir um diagnóstico precoce da doença.

E quais são esses sinais de alerta?

Assimetrias ao nível dos ombros, da linha mamilar e da bacia podem ser indicativas de Escoliose, pelo que, caso se verifiquem, é importante consultar um especialista em Ortopedia. Uma forma simples de detetar deformidades na coluna vertebral é observar a criança ou jovem através do Teste de Adams: basta pedir-lhe para curvar o tronco para a frente, com os pés juntos e as pernas esticadas, e unir as mãos.

Quando o diagnóstico é confirmado pelo médico, o que se segue?

Quando há suspeita de Escoliose, primeiramente, o médico ortopedista vai procurar identificar as curvaturas e sua rigidez, através de radiografias. A amplitude da curvatura, a idade do doente e o nível de desenvolvimento ósseo e sexual em que se encontra são determinantes na decisão terapêutica imediata, no entanto, a perspetiva do tratamento definitivo tem por base o potencial de progressão da Escoliose. Em alguns casos, sobretudo aqueles em que a curvatura é mais acentuada, pode haver necessidade cirúrgica. Nos casos menos graves, para prevenir o agravamento da deformidade e diminuir a necessidade de cirurgia, pode ser recomendado o uso de ortóteses – os conhecidos coletes.

As técnicas cirúrgicas evoluíram muito, ao longo das últimas décadas, permitindo obter cada vez melhores correções da curvatura vertebral. Atualmente, já  é possível corrigir a Escoliose em mais de 50%, com apenas uma cirurgia.

É fundamental que as crianças e adolescentes diagnosticados com Escoliose consultem regularmente o Ortopedista, para acompanhar a evolução da doença e garantir os melhores resultados possíveis no tratamento. Os vários hospitais e clínicas da rede CUF dispõem de um corpo clínico com experiência no diagnóstico e tratamento deste tipo de patologia, estando ao seu dispor para esclarecimentos sobre a Escoliose.

Rui Domingos, Especialista em Ortopedia no Hospital CUF Cascais e nas Clínicas CUF Almada e São Domingos de Rana