O cancro digestivo compreende um grupo de tumores que afetam o tubo digestivo (esófago, estômago e intestino) e órgãos anexos (fígado, vias biliares e pâncreas). No seu conjunto representam os tumores com maior incidência e mortalidade no ser humano. O cancro digestivo com maior incidência é o do intestino (cólon e reto). Importa, por isso, falarmos e esclarecermos as dúvidas que mais se colocam à população.
É importante também salientar que o diagnóstico precoce e tratamento adequado pode conduzir à cura num número significativo de casos. O conhecimento e atenção aos sintomas iniciais pela própria pessoa, recorrendo rapidamente à observação e orientação pelo médico assistente, é garantia do sucesso do seu tratamento.
– O que posso fazer para prevenir este tipo de cancro? Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de um terço dos cancros pode ser prevenido com a mudança do estilo de vida. Ter um estilo de vida saudável pode diminuir a probabilidade de ter um cancro digestivo: alimentação saudável, rica em legumes e frutos frescos, e pobre em gorduras, açúcares, alimentos processados e carne vermelha; não ter excesso de peso (a obesidade aumenta o risco de cancro); fazer exercício físico regular; não fumar; não beber bebidas alcoólicas. Se tiver uma vida saudável, terá um risco menor de desenvolver um cancro.
– Se na minha família existirem casos de cancro digestivo, estarei em risco? A grande maioria dos cancros digestivos são esporádicos, ou seja, não estão ligados à hereditariedade. Menos de 10% dos cancros são hereditários. Em algumas famílias, observa-se uma certa agregação de casos de cancro, mas sem causa hereditária identificada. Os elementos dessa família devem iniciar os programas de vigilância, por exemplo com realização de exames de diagnóstico do cancro colorretal – colonoscopia, mais cedo (cerca de 10 anos antes do caso mais novo). Se for feito o diagnóstico de cancro hereditário, isto é, com uma alteração genética identificada, os familiares diretos devem ser orientados para uma consulta de risco familiar oncológico, onde serão informados dos possíveis estudos a realizar e seguimento futuro.
– Quais os sinais de alerta a que deverei estar atento? É importante ter presente que devemos estar atentos a sintomas / queixas persistentes ao longo do tempo. Estes sintomas devem ser investigados na tentativa de encontrar a sua causa, que até pode não ser um cancro, mas outra doença crónica. Alguns sinais de alerta para o cancro do intestino são sangue nas fezes, anemia nas análises, alteração dos hábitos do intestino (diarreia ou prisão de ventre), dor abdominal persistente, perda de peso sem explicação, náuseas ou vómitos persistentes. A perda de peso sem explicação deve ser investigada. Outros sintomas a serem investigados, presentes em outros tumores: enfartamento e más digestões, dificuldade em engolir (alimentos sólidos, e depois, alimentos mais moles), perda de apetite, cansaço inexplicável, hemorragia digestiva (vómito com sangue ou sangue nas fezes) e icterícia (cor amarela da pele e olhos).
– É possível superar o cancro digestivo? O diagnóstico de cancro não é uma sentença. É uma doença que tem um diagnóstico, um tratamento, e em muitos casos, uma cura. Reforço: é importante estar atento aos sintomas, e recorrer ao médico assistente, para um diagnóstico o mais cedo possível. Quanto mais cedo for detetado, mais fácil será o tratamento, e maior a probabilidade de cura. Se a doença já estiver disseminada (metastizada), a possibilidade de cura é baixa, mas deve sempre lembrar-se que existem, na atualidade, vários tratamentos muito eficazes, que podem tornar esta doença numa doença crónica. Estes tratamentos são a quimioterapia, imunoterapia, hormonoterapia e terapias biológicas. Após o diagnóstico, são realizados vários exames para estadiamento, ou seja, para verificar a extensão da doença (localizada ou disseminada). Depois, cada caso é discutido numa reunião multidisciplinar, em que participam várias especialidades envolvidas no tratamento e seguimento, com a delineação da estratégia do melhor tratamento.
É ainda importante lembrar, que a Oncologia é uma área de intensa investigação e de inúmeros ensaios clínicos, em que os doentes poderão participar, abrindo a porta a novas oportunidades de cura.