Em 2020, foram diagnosticados cerca de sete mil novos casos e morreram cerca de 1800 mulheres com cancro da mama, em Portugal. Perante esta realidade, Diogo Alpuim, oncologista na Unidade da Mama do Hospital CUF Cascais, defende a aposta na personalização das medidas de vigilância e de tratamento. Nesta entrevista fique que a conhecer a importância do diagnóstico precoce do cancro da mama e outras novidades relacionadas com a evolução dos tratamentos.
Qualquer alteração da mama deve ser observada para despiste de cancro da mama?
É necessário estar atenta às alterações e a partir dos 20 anos e realizar o autoexame da mama mensalmente – idealmente 1 semana após a menstruação ou numa data fixa do
mês, no caso de já não ser menstruada. Em caso de dúvida, perante algum sinal de
alarme, é necessário procurar ajuda especializada. No Hospital CUF Cascais recebemos
várias mulheres com dúvidas e dispomos de profissionais de saúde habilitados para poderem analisar cada caso e orientar para o exame complementar de diagnóstico mais adequado. Para tal, estão disponíveis várias técnicas de imagem, incluindo a ecografia, mamograma, mamograma digital com tomossíntese e a ressonância magnética mamária. Adicionalmente, em caso de lesão suspeita, existe também a capacidade de se proceder à biópsia/citologia da lesão suspeita.
Tem de haver uma boa identificação de risco de cada mulher para estabelecer uma melhor forma de vigilância?
É importante seguir as orientações da Direção Geral de Saúde relativas aos exames de
rastreio do cancro da mama. Mas temos, também, de ter em atenção que existem inúmeros fatores de risco relacionados com o cancro da mama, nomeadamente: a idade
(principalmente a partir dos 60 anos), excesso de peso e obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de álcool, não ter tido filhos, primeira gravidez depois dos 30 anos, 1ª menstruação precoce, menopausa tardia, terapêutica hormonal de substituição por um período prolongado, perturbação depressiva e ansiedade, radioterapia numa idade mais jovem e o histórico de cancro da mama na família. Por isso, na CUF, cada doente realiza exames de acordo com a estratificação do grupo de risco individual, identificado pela equipa multidisciplinar. Nesta sequência, é estabelecido um protocolo de vigilância personalizado adaptado ao contexto de cada mulher.
No Hospital CUF Cascais, todos os casos de cancro da mama são avaliados numa
reunião multidisciplinar?
O cancro da mama requer uma abordagem especializada com alta qualidade, segurança,
eficácia e uma estratégia centrada no doente coordenada por uma equipa multidisciplinar.
Neste sentido, foi criada a Unidade da Mama no Hospital CUF Cascais, onde cada doente é
acompanhado por uma equipa multidisciplinar dedicada e com experiência no diagnóstico e
tratamento de cancro da mama. Aliás, a evidência cientíca sugere que a existência de
uma equipa multidisciplinar promove uma melhor adequação de cuidados e, consequentemente, permite melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Há cada vez mais inovações no tratamento?
As opções terapêuticas aumentaram com a chegada da Oncologia de precisão, com a
introdução da imunoterapia, da terapêutica alvo e dos anticorpos monoclonais conjugados, não esquecendo os avanços no campo da genética. Temos hoje tratamentos cuja
eficácia é maior e mais prolongada no tempo, mas também menos tóxicos e mais facilmente tolerados. Também temos assistido a uma evolução do tratamento cirúrgico, que tem passado de cirurgias radicais para cirurgias mais conservadoras, aliadas a técnicas de
cirurgia plástica. Mas apesar destes avanços, eu diria que a maior evolução passa mesmo
pela avaliação e acompanhamento multidisciplinar dos doentes. Passamos de uma “Medicina Paternalista” (“o doutor é que decide”) para uma “Medicina Integrada” (“vamos
discutir entre nós”) em que participa a equipa multidisciplinar e o próprio doente. O Hospital CUF Cascais tem acompanhado todas estas evoluções, dispõe de uma equipa multidisciplinar e de todos os meios e técnicas necessárias às várias fases da jornada do doente oncológico.
Poder receber cuidados de saúde perto da área de residência é uma mais valia para as pessoas com cancro da mama?
Sem dúvida. Por exemplo, julgo ser tranquilizador para o doente saber que é seguido por uma equipa diferenciada em cancro da mama no Hospital de Dia Oncológico no Hospital
CUF Cascais, e que não necessita de grandes deslocações para realizar as consultas e os
tratamentos. Trata-se de associar o conforto de quem está perto de sua casa, ao conforto de ser seguido por uma equipa que tem uma única missão: “saber cuidar”.
PROJETO PIONEIRO
- Nódulo(s) ou endurecimento palpável na mama ou na axila;
- Modificação no tamanho ou formato da mama (assimetria excessiva);
- Dor ou sensibilidade na mama ou mamilo;
- Alterações na pele da mama (espessamento ou retração da pele da mama ou inversão do mamilo, vermelhidão, inchaço e “pele casca de laranja”);
- Descamação do mamilo, semelhante ao eczema;
- Corrimento mamilar.
TESTEMUNHO
Monika Wieslawa
Ao sentir um pequeno caroço na parte superior do peito procurou o médico de família que lhe receitou um anti-inflamatório, por suspeita de ser um efeito secundário da vacina da Covid-19. Pouco depois, foi numa consulta de rotina de Ginecologia no Hospital CUF Cascais, que acabou por comentar com a sua médica a existência do caroço, que ainda não havia desaparecido. Após observação, seguiram-se, exames de imagem e depois a biópsia que revelou a existência de cancro da mama. Esta é a história do diagnóstico de Monika Wieslawa, natural da Polónia que vive em São Domingos de Rana há 5 anos. O tratamento contou com o envolvimento do cirurgião, do oncologista, do radioncologista e da equipa de enfermagem, para a realização da cirurgia e das sessões de quimioterapia e radioterapia. Foi assim que, numa abordagem multidisciplinar, em 2020, Monika deu resposta ao cancro. Um processo que diz ter sido “ágil” e no qual se sentiu sempre “bem acompanhada”.“Tudo foi organizado de forma muito rápida, o que apreciei bastante. De um momento para o outro izz a cirurgia e conheci o Dr. Diogo Alpuim, que me orientou para todos os outros tratamentos que iriam ser necessários, sempre recetivo e esclarecedor quanto às minhas dúvidas. Já no Hospital de Dia do Hospital CUF Cascais, onde me desloquei para fazer vários ciclos de quimioterapia, a enfermeira acompanhou-me sempre, tranquilizando-me, num ambiente calmo que me transmitiu segurança”.Hoje, com 42 anos de idade, Monika revela: “Estou feliz e bem de saúde” e deixa uma mensagem positiva a todas as mulheres que possam estar agora a receber o diagnóstico de cancro da mama – “É apenas mais uma doença que surgiu e que tem de ser tratada.”