A Câmara Municipal de Cascais associou-se à Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril na celebração, ontem, em Cascais, do 50º aniversário de um encontro de Capitães, onde foi decidida a opção pelo golpe de Estado. Nessa ocasião histórica, os jovens militares também fortaleceram a organização do Movimento e iniciaram os preparativos para a elaboração de um programa político que resumisse os seus objetivos.
Ontem, quando passaram exatamente meio século desde a reunião de Cascais, foram inauguradas duas obras em Cascais e S. Pedro do Estoril, como parte do projeto artístico “Girândolas de Luz”, concebido por Catherine da Silva, com o propósito de preservar e promover a memória desses eventos. A primeira peça, marcando o local onde ocorreu a Reunião de 5 de março de 1974, simbolicamente no número 13 da Rua Visconde Luz, em Cascais, foi revelada às 11h00. A segunda, assinalando o local de outra relevante reunião do Movimento dos Capitães no concelho, em 24 de novembro de 1973, na residência da família Fonseca Ribeiro, em São Pedro do Estoril (próximo do local onde hoje se encontra o restaurante “O Mira”), foi revelada às 12h00. As Girândolas evocam a forma dos cravos que deram nome à Revolução e têm entre 3m e 3,5m.
A iniciativa, realizada em conjunto com a Associação 25 de Abril, contou com discursos do Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras; do Presidente da Direção da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço; da Comissária Executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Maria Inácia Rezola; e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva, afirmou: “Neste momento em que a Democracia portuguesa completa 50 anos e o país se mobiliza para celebrar com entusiasmo e orgulho o seu momento fundador, é essencial recordar o contributo determinante do encontro de Cascais para o 25 de Abril de 1974. As comemorações permitem-nos recordar de forma crítica datas e eventos, personalidades e processos, celebrando a história e um futuro que todos desejamos mais justo e participativo. Conhecer o passado permite-nos valorizar as conquistas de Abril e combater a indiferença e o esquecimento, especialmente entre as gerações que nasceram em Liberdade.”
Vasco Lourenço, Presidente da Direção da Associação 25 de Abril, declarou: “Na reunião de 5 de março de 1974, em Cascais, decidimos avançar para uma ação de força, derrubando a ditadura; elaborar um Programa político, que definisse as linhas do futuro regime; confirmar a escolha de Francisco da Costa Gomes e de António de Spínola como futuros Chefes, desde que aceitassem o Programa do Movimento; e dar um voto de confiança à Comissão Coordenadora e à respetiva Direção para executarem as decisões aprovadas. Foram resultados preciosos para o desenrolar do caminho para a Libertação.”
“Há 50 anos, unimo-nos e triunfamos sobre um regime não democrático. A celebração do 25 de Abril em Cascais é uma afirmação de princípios. É a reafirmação de uma democracia forte. Honrar Abril é recordar e admirar aqueles homens e mulheres que nos libertaram da servidão para nos dar a liberdade plena. É agradecer aos vários heróis que estiveram na linha da frente, os Capitães de Abril, que, com bravura, realizaram a única Revolução do mundo sem sangue, substituindo as armas por flores: os nossos cravos. Lutemos, hoje mais do que nunca, por uma Democracia sem senhores. Aqui, nesta nossa Vila de Cascais, também é o povo quem mais ordena”, destacou Carlos Carreiras, Presidente da Câmara Municipal de Cascais.
Um regime a 51 dias do fim
Na reunião realizada em Cascais em 5 de março de 1974, os Capitães assumiram como inevitável a opção pelo golpe de Estado, reforçaram a sua organização e iniciaram os preparativos para a conclusão de um projeto político que sintetizasse os seus objetivos fundamentais.
O encontro clandestino foi planejado com precauções significativas de segurança. Os cerca de 200 homens (em representação de mais de 600) convocados para a reunião foram dispersos por 18 cafés ou pastelarias em Lisboa, onde aguardavam por um elemento que os guiasse até o local da sessão. O plano inicial era realizar a reunião no edifício Franjinhas, no cruzamento das ruas Castilho e Braamcamp, mas foi alterado no próprio dia: o destino final acabou sendo o 1.º andar do número 45 da rua Visconde Luz, em Cascais, no ateliê do arquiteto Braula Reis.
Nesse espaço exíguo, desenrolou-se uma etapa crucial na história do Movimento dos Capitães e para o sucesso da “Operação Viragem Histórica”, que, 51 dias depois, derrubaria uma ditadura com quase meio século de duração.
Durante o encontro, foi aprovado pela maioria dos presentes (111) o documento de síntese “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação”. Este foi o primeiro esboço político dos Capitães, vital para definir os seus objetivos. Ficou evidente a intenção do Movimento de democratizar o país e de pôr fim à guerra, marcando também a transição do Movimento dos Capitães para o Movimento das Forças Armadas (MFA). Os Capitães decidiram delegar em Melo Antunes a responsabilidade de liderar e coordenar a comissão de redação do Programa.
Fonte Câmara Municipal de Cascais