Cerca de três dezenas de pessoas estão acampadas do lado de fora da Quinta dos Ingleses, ainda não sabem o que lhes vai acontecer e qual será o seu futuro. Sem saber o que virá a seguir, vivem diariamente numambiente de ansiedade e preocupação. A situação é difícil para todos, especialmente para aqueles não têm outro lugar para ficar.
No início de março, a construtora Alves Ribeiro, deu início à instalação da vedação que limita o espaço para a criação de um parque urbano e da construção de um empreendimento habitacional, com comércio, serviços e hotelaria, na Quinta dos Ingleses em Carcavelos.
Este local, tinha sido ocupado ilegalmente por mais de uma centena de pessoas em autocaravanas, roulotes ou tendas. Receberam uma ordem de desocupação até dia 31 de maio. A ação da construtora marca o início de um novo desenvolvimento na Quinta dos Ingleses, que tem sido objeto de várias controvérsias e contestações públicas
sobre o seu futuro e uso do espaço. Na linha da frente da contestação está o movimento SOS Quinta dos Ingleses, que tem vindo a chamar a atenção para os impactos ambientais e socias se a construção avançar, “é um ecocídio e a destruição de um pulmão verde essencial a toda a população”. O mesmo movimento criou uma petição, “Pela Proteção da Mata da Quinta dos Ingleses”, que foi entregue no dia 15 de maio na Assembleia da República e atualmente conta com mais de nove mil assinaturas.
Ao longo do mês, a maioria das pessoas saíram ordeiramente, dirigindo-se para outros locais, mas cerca de três dezenas colocaram as tendas do lado exterior junto à vedação. António (nome fictício), reside numa tenda há cerca de um ano. Já teve uma habitação com três quartos, mas o aumento abrupto da renda de casa levou-o a dormir numa tenda, “a renda aumentou de 550 euros para 1500 euros em muito pouco tempo”. Reside em Portugal há vinte anos e nunca imaginou que um dia teria de morar nestas condições. Ex- condutor da TVDE, António não tem orçamento suficiente para fazer face a todas as despesas. Afirma que a maioria dos “vizinhos” são pessoas que, “saiem de manhã para trabalhar e regressam ao final da tarde, é esta a rotina da maioria das pessoas que aqui vivem”.
Maria (nome fictício) está em Portugal há nove meses. Veio à procura de uma vida melhor, mas não conseguiu. Vive com o marido numa pequena tenda próxima de António, “saí dali e vim para aqui com o meu marido, não temos outro local para ficar. O meu marido vai trabalhar e só regressa ao final do dia”, já teve uma casa mas, “o preço alto das casas é impossível para quem recebe apenas 820€ de salário mínimo”, afirma. A história de Maria e do marido reflete as dificuldades enfrentadas por muitas pessoas em situações de vulnerabilidade, que procuram diariamente encontrar uma estabilidade e melhores condições de vida.
Maria descreve como foram os últimos dias de maio, “há duas semanas que nos instalamos aqui, mas nos últimos dias não foram agradáveis, primeiro veio aqui a Polícia Municipal, a dizer que não podíamos estar aqui e que tínhamos de sair. Como não saímos, no dia seguinte, apareceram cerca de vinte agentes da PSP que nos intimidaram e que queriam que saíssemos à força”, recorda.
Estas ações de pressão sobre os ocupantes ilegais, leva a uma situação tensa entre eles e as autoridades. Por enquanto, os cerca de trinta ocupantes continuam no mesmo espaço, a incerteza persiste, e eles permanecem na expectativa de uma resolução que possa oferecer uma solução estável e segura para suas vidas.
Bruno Taveira