Foi durante a adolescência que nasceu o gosto pela pintura mural. Fascinada pelas
cores, formas e pela liberdade de expressão que os murais proporcionam, começou
a experimentar diferentes técnicas e estilos. Com o passar dos anos, a paixão
tornou-se profissão. Hoje vive da pintura e tem o privilégio de ver o seu trabalho
reconhecido nalgumas das maiores cidades da Europa, através de exposições,
colaborações e projetos urbanos.

Com formação superior em Belas Artes na área de desenho, Mafalda
Gonçalves considera que a arte sempre foi um refúgio e uma forma de se
expressar e explorar técnicas, em papéis ou sketchbooks. O gosto pela pintura
mural surge quando foi voluntária num dos festivais de arte urbana que se
realizou em Cascais, onde teve contacto com artistas portugueses de renome.

A experiência despertou uma nova paixão, a de transformar espaços públicos
em verdadeiras galerias de arte a céu aberto. Resiliente e determinada,
Mafalda explora técnicas e estilos, criando uma identidade artística, com uma
paleta de cores muito própria, onde a figura humana é parte integral das obras
que pinta, “eu sempre explorei o figurativo, não digo realismo, embora algumas
pessoas o possam classificar, aquilo que me caracteriza neste momento é a
textura, a pincelada um pouco mais grosseira, ao longe pode funcionar como
realismo, mas ao perto pode não ser considerado, em relação à cor, há cores
que são de uso regular, que me transmitem algum sentimento”, refere.

O ano 2021 marca a sua internacionalização. Foi convidada a pintar nalguns
festivais, uma oportunidade que surgiu de forma inesperada, “estava a pintar
apenas há um ano quando começaram a surgir alguns convites para festivais,
e outros trabalhos foram candidaturas que eu fiz e que fui aceite”, recorda.
Esse reconhecimento inicial deu-lhe a confiança para continuar a explorar a
pintura mural e expandir o seu trabalho além-fronteiras. No ano seguinte
(2022), quando pintava uma obra de dezassete metros de comprimento no
metro de Madrid, tomou uma decisão que mudaria o rumo da sua carreira,
“decidi que estava na altura de apostar cem por cento na pintura mural e desde
então que tenho vindo a evoluir como artista, e também tenho tido
oportunidades incríveis”.

Desde esse momento, a sua dedicação à arte urbana tem sido total, permitindo-lhe crescer profissionalmente e levar a sua arte a novos públicos e locais, como Espanha, Inglaterra, Alemanha, Itália e Portugal de Norte a Sul.
Cada trabalho procura refletir histórias e vivências, através da arte tenta
preservar memórias e dar voz a narrativas que, de outra forma, poderiam
perder-se no tempo, “o meu trabalho fala essencialmente da questão da
identidade e da memória, seja através de murais ou do trabalho de estúdio que
faço”. Com inúmeras obras espalhadas pelas principais cidades europeias, é
em Portugal que Mafalda classifica atualmente uma das suas maiores e mais
marcantes criações “a obra criada para os Bombeiros de Oliveira do Hospital
com cerca de 340 metros quadrados e também para os Bombeiros de
Oliveirinha”.

No concelho de Cascais há muitas obras expostas em quase
todas as freguesias, a última está exposta na Praia da Poça, um mural que
homenageia a memória de um jovem que faleceu no início deste ano em Lisboa, “este mural é especial, retrata o Rodolfo, um cidadão de Cascais, que
faleceu no início do ano. Foi uma ação organizada pela família, amigos e foi
autorizado pela C.M. Cascais”, afirma. A pintura, carregada de emoção,
pretende não só prestar tributo a Rodolfo, mas também eternizar a sua
presença no coração de quem o conheceu. A artista mantém o desejo de
evoluir e de levar a sua arte a novos horizontes, sempre fiel à sua visão e ao
impacto que deseja gerar.
Bruno Taveira (Texto e imagens)