Três pessoas detidas por desacatos

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A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, fez, esta quarta-feira, um balanço da situação na Área Metropolitana de Lisboa, onde nas últimas duas noites têm havido desacatos após um agente da Polícia de Segurança Pública ter matado um homem na cova da Moura, na Amadora. «Queria fazer uma especial menção àqueles que estão a trabalhar pela tranquilidade e para acabar com estes distúrbios perfeitamente inadmissíveis que não permitem às populações deslocar-se e fazer a sua vida laboral normal e acompanhar crianças à escola. Todos aqueles que têm atuado nestes distúrbios já se encontram detidos. Tudo faremos para levar todos aqueles que participaram nestes tumultos à justiça», afirmou a ministra. Registe-e que duas pessoas estão detidas por incêndio e agressões a agentes policiais e outra por incêndio e posse de material combustível.

Tumultos espalhados pela Grande Lisboa

Os tumultos violentos espalharam-se a várias zonas de Lisboa, nomeadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra), Damaia (Amadora), havendo a registar pelo menos uma detenção, dois polícias hospitalizados, vários veículos incendiados e ocorrências em seis concelhos. São números de uma noite de caos à volta da grande Lisboa, onde a morte de Odair Moniz depois de uma operação da PSP desencadeou uma onda de revolta.

Há registos em 60 esquadras da Área Metropolitana de Lisboa, dividindo-se entre os concelhos de Lisboa, Loures, Amadora, Sintra, Cascais e Setúbal, onde foram incendiados caixotes e viaturas.

Os dois polícias foram feridos pelo arremessamento de pedras, há registo de dois autocarros de passageiros terem ardido depois de terem sido roubados, num dos casos ainda com passageiros e motorista no interior do veículo. Foram ainda incendiados ou danificados, pelo menos, seis veículos ligeiros e uma mota.

Tiros no Bairro da Portela de Carnaxide

No bairro da Portela, Carnaxide, registaram-se disparos de tiros, alguns dos quais da parte da PSP. Neste local, foi incendiado um autocarro, além de vários caixotes do lixo e uma viatura ligeira, disse fonte da PSP. Pelas 23h45, registavam-se neste bairro novos focos de incêndio.

Já no concelho de Sintra foi arremessado um objeto contra a esquadra da PSP de Casal de Cambra, sem causar danos, acrescentou a fonte. Na Damaia houve desacatos em várias ruas, nomeadamente o arremesso de petardos e de pedras na via pública, bem como fogo posto em vários caixotes do lixo. Antes, ao início da noite, um autocarro tinha sido incendiado no bairro do Zambujal, onde decorreram pela segunda noite desacatos.

Além do policiamento no bairro do Zambujal, a PSP reforçou os meios em vários locais, concertamente nas denominadas Zonas Urbanas Sensíveis (Zus). A PSP indicou, em comunicado, que uma pessoa foi detida por posse de material combustível no bairro do Zambujal.

Odair Moniz, de 43 anos, recorde-se, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. Segundo a direção nacional da PSP, o homem pôs-se «em fuga» de carro depois de ver uma viatura policial na Avenida da República, na Amadora, e «entrou em despiste» na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, «terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca».

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigem uma investigação «séria e isenta» para apurar «todas as responsabilidades», considerando que está em causa «uma cultura de impunidade» nas polícias. De acordo com os relatos recolhidos no bairro pelo Vida Justa, o que houve foram «dois tiros num trabalhador desarmado».

Já na segunda-feira, o Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito urgente e também a PSP anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência. O agente que baleou o homem foi entretanto constituído arguido, indicou fonte da Polícia Judiciária.