
O Estoril Classics 2025 promete um grande espectáculo, com mais de 250 carros históricos em pista ao longo do próximo fim-de-semana. Protótipos, GT, Turismos e Fórmula 1 vão transformar o Autódromo do Estoril num palco vivo da história e para facilitar a tarefa dos adeptos apontamos os dez carros imperdíveis.
As grelhas percorrem todo o arco do automobilismo clássico: Classic Endurance Racing 1 e 2, Sixties’ Endurance, The Greatest’s Trophy, 2.0L Cup, Historic Touring Challenge, Classic Touring Challenge e o Classic GP. Do Allard J2 de 1951, um puro-sangue do pós-guerra, ao Ligier JS25 Renault de 1985, símbolo da Era Turbo, quando em qualificação os motores debitavam mais de 1 300 cavalos, o Estoril Classics oferece uma viagem por 34 anos de evolução técnica. É uma rara oportunidade para sentir, numa única jornada, a transição de chassis artesanais para monocoques sofisticados, de motores atmosféricos para turbos desmesurados – uma verdadeira celebração da ousadia e da velocidade.
Para guiar o olhar do público por este manancial de história, escolhemos dez máquinas que se destacam entre todas. São carros que desafiaram convenções, venceram nas pistas mais exigentes e continuam, décadas depois, a provocar arrepios quando os vemos e ouvimos em acção.
Porsche 904 GTS (Fuhrmann) 1964
Apresentado em 1964, o Porsche 904 Carrera GTS é um dos modelos mais admirados da história da Porsche. Lançado em 1964, foi o primeiro Porsche de competição com carroçaria em fibra de vidro, desenhado por Ferdinand Alexander “Butzi” Porsche – o criador do 911 e fundador da Porsche Design. A versão original, equipada com o motor de quatro cilindros Fuhrmann (Tipo 587), é considerada uma obra-prima de leveza e precisão, e para muitos, o Porsche mais belo de sempre.
O 904 conheceu várias evoluções, incluindo as versões 904/6 e 904/8, com motores de seis e oito cilindros, que lhe permitiram manter competitividade nas provas internacionais de resistência. Venceu a classe em Le Mans em 1964 e 1965, brilhou na Targa Florio, nos 1000 km de Nürburgring e em Sebring, e foi conduzido por nomes como Hans Herrmann, Edgar Barth e Gerhard Mitter. A sua agilidade e fiabilidade tornaram-no um adversário temido mesmo contra protótipos de maior potência.
No Estoril Classics 2025, o público poderá ver uma representação notável desta linhagem: Eric Poirot e Claudio Roddaro alinharão com um 904/6 na prova The Gentlemen Challenge, tal como Hipólito Pires e Diogo Tavares, com outro exemplar, e Peter Vögele e Dr. Afschin Fatemi, com um cada um. Na Sixties’ Endurance, Andrew Smith e Oliver Bryant apresentarão, também, uma destas máquinas.

Ferrari 275 GTB Competizione 1965
O Ferrari 275 GTB Competizione representa uma das expressões mais elegantes e puras da Ferrari no mundo das corridas GT. Estas versões de competição foram produzidas entre 1964 e 1966 e divididas em várias séries: as “Competizione Speciale” – construídas pela fábrica com chassis leves e carroçaria em liga leve – e os modelos Cliente Competizione, versões modificadas destinadas a equipas privadas, com carroceria mais leve, entradas de ar adicionais e tanques de combustível maiores.
Nas pistas, estes 275 mostraram grande valia, competindo em provas de resistência, entre elas as 24 Horas de Le Mans, e alcançaram vitórias de classe e desempenhos consistentes em campeonatos GT.
No Estoril Classics 2025, um exemplar deste ícone estará presente na grelha da Sixties’ Endurance, nas mãos de Andreas Rolner e Jakob Viggo Holstein, tomando parte, também, na corrida do Iberian Historic Endurance, no domingo. Uma oportunidade única para ver ao vivo uma das criações mais puras de Maranello, cujo rugido do V12 continua a ser música para os apaixonados.

Alfa Romeo Giulia TZ2 1965
Lançando em 1965, o Alfa Romeo Giulia TZ2 é uma joia da competição automóvel. Desenhado pela Zagato sobre um chassis tubular ultra-leve (“TZ” = Tubolare Zagato), com peso abaixo de 630 kg, destaca-se pela rara combinação de agilidade, aerodinâmica e elegância.
Nas pistas, o TZ2 conquistou triunfos importantes na sua classe, como é o caso da vitória na sua categoria nas 24 Horas de Le Mans em 1965 e conseguiu primeiro lugar da classe nos 1000 km de Monza com Roberto Bussinello ao volante. Pilotos como Bussinello, “Geki” e Teodoro Zeccoli associaram o modelo ao seu prestígio nas corridas de GT na década de 60.
No Estoril Classics, o Alfa Romeo Giulia TZ2 competirá no The Greatest’s Trophy e será conduzido por Christian Oldendorff, uma oportunidade única para admirar ao vivo esta raridade que, em apenas doze unidades produzidas, é símbolo absoluto da era dourada dos GTs.
Porsche 917K 1970
Estreado em 1970, o Porsche 917K (Kurzheck) foi a evolução decisiva do 917 original e tornou-se num dos carros mais lendários da história do automobilismo. Com a sua carroçaria de cauda curta, resolvia os problemas de instabilidade do modelo inicial e transformou-se numa máquina quase imbatível. Foi o primeiro Porsche a conquistar a vitória absoluta nas 24 Horas de Le Mans, nesse mesmo ano, com Hans Herrmann e Richard Attwood ao volante, abrindo caminho para o domínio da marca no Campeonato Mundial de Marcas.
Imortalizado no cinema por Steve McQueen no filme Le Mans, o 917K tornou-se um ícone cultural que transcende o desporto motorizado. O rugido do seu motor de doze cilindros e a sua silhueta inconfundível continuam a emocionar gerações de entusiastas e a representar o auge da era dourada dos protótipos.
No Estoril Classics 2025, o público terá o privilégio de ver e ouvir este monstro em acção na prova Classic Endurance Racing 1, conduzido por Philippe Siffert – filho do lendário Jo Siffert – e Michel Speyer.

Tyrrell P34 Ford Cosworth 1976
O Tyrrell P34, apresentado em 1976, é um dos Fórmula 1 mais intrigantes e ousados da história. Foi o único carro de seis rodas a alinhar em provas oficiais, com quatro rodas dianteiras de menor diâmetro e duas traseiras convencionais — um projecto concebido para reduzir a área frontal e aumentar a aderência.
O P34 teve alguns momentos de glória, tendo Jody Scheckter conquistado uma histórica vitória no Grande Prémio da Suécia de 1976, tendo Patrick Depailler, terminado em segundo, garantido uma dobradinha para a Tyrrell. Nesse mesmo ano, o francês garantiu um notável segundo lugar no Grande Prémio de Itália do mesmo ano.
No Estoril Classics, este ícone estará presente na grelha do Classic GP, prometendo ser um dos carros que suscitará maior interesse junto do público.
BMW M1 Procar 1979
O BMW M1 Procar, estreado em 1979, é um dos modelos mais icónicos da história da BMW. Concebido para a espectacular competição monomarca Procar, reuniu pilotos de Fórmula 1, de Turismos e de Endurance numa grelha única, todos ao volante de M1 idênticos preparados para pista.
Com o seu motor de seis cilindros em linha M88/1, preparado para debitar mais de 470 cv, o M1 Procar proporcionava corridas curtas, mas intensas, onde pilotos como Niki Lauda e Nelson Piquet brilharam, conquistando os títulos de 1979 e 1980, respectivamente. A sonoridade aguda e o equilíbrio do chassis transformaram-no num carro de culto. No Estoril Classics 2025, dois exemplares vão rugir de novo na grelha da Classic Endurance Racing 2: um conduzido por Sebastian Glaser e outro partilhado por Steven Osborne e Chris Ward.
Porsche 935 K3 1980
O Porsche 935 K3 representa o auge da ascensão dos turbo nos GTs. Baseado no 911, adaptado ao regulamento Grupo 5 e optimizado pela Kremer Racing, tornou-se visualmente inconfundível e temível em pista. A versão K3 conquistou o triunfo absoluto nas 24 Horas de Le Mans em 1979 com Klaus Ludwig e os irmãos Whittington – um feito notável para um carro derivado de um modelo de série. Ao longo da sua carreira, venceu provas de resistência importantes e dominou o DRM, coroando Ludwig como campeão em 1979, o ano de estreia da máquina germânica.
Pilotos lendários ligados ao 935 K3 incluem Klaus Ludwig, Rolf Stommelen, Don Whittington e Bill Whittington, além de muitos outros que exploraram a força bruta do turbo da versão Kremer. No Estoril Classics 2025, o Porsche 935 K3 alinhará na prova Classic Endurance Racing 2, conduzido por Xavier Maurey e François Cointreau.
Ford Capri Zakspeed Turbo 1981
O Ford Capri Zakspeed Turbo, estreado em 1978 no campeonato DRM, é uma das criações mais radicais da história do Grupo 5. Concebido pela Zakspeed, apresenta apêndices aerodinâmicos extremos – guarda-lamas alargados, asa traseira descomunal, entradas de ar agressivas – e esconde debaixo da carroçaria um motor Cosworth BDA turbo capaz de debitar mais de 500 cv. Um verdadeiro “monstro” de pista que se tornou um ícone da era das silhouette cars.
No DRM, o campeonato alemão de turismos, o Capri Zakspeed rivalizou directamente com os temíveis Porsche 935, chegando a vencer corridas. Klaus Niedzwiedz e Hans Heyer foram dois dos pilotos que se notabilizaram ao volante desta máquina, levando-a ao limite e cimentando a sua reputação como um dos carros mais espectaculares da época. No Estoril, este ícone vai rugir de novo na grelha da Classic Endurance Racing 2, pilotado por Emile Breittmayer.
Ferrari 512 BB/LM 1982
O Ferrari 512 BB/LM S2 é um dos mais impressionantes GTs da época. Derivado do 512 Berlinetta Boxer de estrada, foi transformado em 1981 pela Ferrari e pela Michelotto numa máquina de competição radical, com a carroçaria alargada e esculpida em túnel de vento, peso aliviado e motor flat-12 de quase cinco litros que lhe permitia velocidades de ponta superiores a 320 km/h.
Em competição, o BB/LM destacou-se nas grandes provas de resistência, conquistando um 5.º lugar à geral e vitória na classe GTX em Le Mans 1981, além de presenças notáveis nos 1000 km de Monza, 24 Horas de Daytona e 12 Horas de Sebring.
No Estoril Classics 2025, este exemplar estará em pista na grelha da Classic Endurance Racing 2, conduzido por Olivier Breittmayer.

Ligier JS25 Renault 1985
O Ligier JS25 competiu 1985, numa altura em que a era turbo da Fórmula 1 vivia a sua fase mais extrema. Equipado com o motor Renault V6 turbo, este carro fazia parte de uma geração em que em qualificação as potências ultrapassavam 1 300 cavalos, uma fase de pura ousadia mecânica e arrojo técnico.
Apesar de nunca ter vencido um Grande Prémio, o JS25 atingiu diverso pódios, permitindo à Ligier ficar no 6.º posto do Campeonato de Construtores. Jacques Laffite alcançou dois 3.º lugares ao longo de 1985, e na última corrida do ano, na Austrália, conduziu o JS25 a um impressionante 2.º lugar, seguido de Philippe Streiff, apesar deste cruzar a linha de meta com a roda dianteira esquerda quase solta depois de uma colisão com o seu colega de equipa. O carro francês, que competiu no Grande Prémio de Portugal de 1985, estará à partida para o Classic GP, uma oportunidade única para ver um Fórmula 1 da Era Turbo a ser pilotado no limite.